terça-feira, dezembro 07, 2010

Alívio


Acabou. Tirei das costas o fardo da opressão, este mal necessário que me sufoca, me consome, me anula. Finalmente a sensação de estar livre se apodera de mim, mesmo que por pouco tempo, porque sei, logo, tudo recomeça.
Mas enquanto isso gozarei o privilégio de um domingo só meu, até o próximo campeonato.

Íntima vingança


O carro era a vida do cidadão. Mantinha-o lavado, encerado, devidamente polido, lubrificado e guardado na garagem coberta, coberto por uma manta. Tamanho zelo despertava o ciúme dos filhos e, não raro, a ira da mulher.
A gota d’água veio com a chuva que o impediu de buscar a esposa no médico. Mulher é bicho vingativo: meteu gostoso com o amante em cima do capô num drive-in de quinta categoria. Deixou marcas de corpos e sêmen ofuscando o brilho da lataria. Mas ante de ir para casa mandou o carro ao lava-rápido. A vingança era íntima.

Mãe penitente


Durante muito tempo foi ao trabalho a pé. A economia do passe era a garantia do diploma do filho.
O menino se formou e os juros estão baixos, a faculdade se converteu num gorducho carnê de 60 prestações do primeiro carro (e zero!) da família. Mas continua indo a pé ao trabalho, afinal, pega mal o imprestável doutor andar de ônibus.

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Saudação Inicial

" É o Tédio! - O olhar esquivo à mínima emoção,
Com patíbulos sonha, ao cachimbo agarrado.
Tu o conheces, leitor, ao monstro delicado
- Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão."
                       Baudelaire,Charles."Ao Leitor"
                                                in: Flores do Mal